domingo, 25 de outubro de 2009

Horizontes

O leiteiro deixou o leite na porta. O carteiro passou de bicicleta. O marido abriu o jornal. A faca insistia na manteiga dura. No meio da mesa, dentro da garrafa de vidro, havia um barco à vela. E o vento estava favorável. A embarcação fluía. Toda a maresia do mar melava a pele queimada de sol a pino. Horizonte, horizonte, para onde vais? Um círculo de horizonte a envolvia. O barco seguia. Mas ela não chegava até detrás do horizonte. O horizonte é que os espremia, ela e a embarcação, gradativamente. O espaço ficava menor. O sol no meio do círculo.
Até que uma andorinha raspou-lhe a cabeça. Mas é verão:
- Mãe, depois você me ajuda a arrumar meu armário?

4 comentários:

  1. e ela acordou.

    isso é mais que texto. é cinema.
    te amo

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  2. “O barco seguia. Mas ela não chegava até detrás do horizonte.”
    Muito belo, “O que faz o deserto bonito é que, em algum lugar, ele esconde um poço.”
    Talvez seja essa a beleza das palavras, basta fechar os olhos, aqui esta o horizonte e ainda mais, eu diria, belas palavras!

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  3. Aqui se fala do que se vê. Mas em tudo vem convite. Chamado de participar e saber que nunca se sabe o que vem. Pode-se começar com bolas coloridas e terminar em tristeza. Ou lembrar que esse invento todo mora numa menina olhando uma janela e rua tardinha.
    Alegria saber que sempre transborda por aqui.
    Lindo simples.

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