segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Decisão

Quedo-me abruptamente. Pensei tanto antes de fazer, na tentativa de acertar, que não fiz. Segui com a dúvida imobilizadora. Uma interrogação tão pesada quanto uma pedra de mármore, torta, por entre os átrios do coração. Com a respiração dificultada, formou-se também uma bola em minha garganta: palavra acumulada. Tive pesadelos por noites seguidas. Um dia acordei sem os dedos das mãos e dos pés e não pude mais sair da cama. Num sonho, consegui sentir minhas mãos balançarem ao vento. Eram penas que brotavam dos meus membros. Como fosse tão bom voar, permiti-me rodar e dar cambalhotas. Acordei sorrindo. Queria andar e não consegui. Mas voei. Sei que no peito ainda restam cascalhos de mármore. Mas a certeza só pode ser incompleta. E as palavras erram comigo no ar.

4 comentários:

  1. Sinceramente? Gostei muito do que li! Penso o seguinte: seus textos são, em verdade, poesia em prosa! Poderiam tranquilamente ser adaptados para serem poemas (tipo Iracema do José de Alencar). Parece-me evidente uma clara preocupação com a linguagem, algo típico de quem escreve poesia (embora haja inúmeros prosadores que deem uma atenção especial à linguagem...). O fato é que hoje há uma forte corrente de jovens escritores que privilegiam a narração e, assumidamente, preferem deixar um pouco de lado o tratamento lingüístico do texto. O tratamento dispensado aos seus escritos – cuja proposta é a de ser breve e não ter, portanto, um desenvolvimento narrativo muito extenso - me parece o mais adequado mesmo. Afora esses detalhes meramente teóricos e para ser sucinto: os textos são bonitos. Sim, por que não usar este adjetivo? por que as pessoas não falam isso de um texto? Não sei mesmo! Mas no fundo o que importa mesmo é a beleza do texto. Isso basta.

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  2. que orgulho! cadê vc?
    aqui tb está vc ó -> s2 my heart
    :*

    narjara

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  3. me lembrou de uma passagem sobre o arrebatamento causado por um experiencia dionsíaca de unificação e de contato com a dor primordial: o homem esqueceu-se de si mesmo, esqueceu de andar e está a ponto de, dançando, voar pelos ares

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  4. "a certeza só pode ser incompleta"

    que fantástico isso....

    que continuem errando contigo as palavras... para que sempre surjam acertos assim.

    te mando um beijo, robertinha.

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